O Irmão Alemão
– Chico Buarque de Hollanda

O texto recria uma história com base em correspondências trocadas entre a alemã Anne Margerithe Ernst e o historiador Sergio Buarque de Hollanda, que tiveram um relacionamento entre 1929 e 1930.

Sérgio foi convocado de volta ao Brasil, pelo jornal para o qual trabalhava, e deixou, na Alemanha, a namorada gravida de um filho que inicialmente recebeu o nome de Sergio Ernst.

Adolfo Hitler e os judeus

No governo do ditador Adolfo Hitler, Anne escreveu ao pai do menino solicitando documentos que comprovassem a inexistência de sangue judeu, na tentativa de salvá-lo da perseguição, aos judeus, pelo regime alemão à época.

Por sua vez, Sergio de Hollanda tentou argumentar a dificuldade de comprovar a sua árvore genealógica devido à precariedade dos registros de nascimentos dos seus pais.

Considerando os argumentos do pai, Anne entrega o menino à Secretaria da Infância e da Juventude no distrito de Tiergarten, Berlim, o qual foi adotado, posteriormente, por Arthur Erich Willy Günther e sua mulher, Pauline Anna, que o criaram com o nome de Horst Günther.

Diálogo com o historiador

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No mais o autor navega em suposições e relata o relacionamento com a mãe e o irmão brasileiro, mediando acontecimentos históricos e registrando a dificuldade de diálogo com o historiador Sergio Buarque de Hollanda, seu pai, retratando-o como uma pessoa dedicada, exclusivamente, ao trabalho literário.

“Para ela, a ouvir meus desastrados palpites literários, papai há de sempre preferir que meu irmão o distraia com as historietas da Luluzinha ou as últimas notícias da Brigitte Bardot. Em contrapartida, poderei ganhar sua atenção, seu crédito, seu mais íntimo reconhecimento, caso tenha êxito no rastreio de um menino de identidade incerta, porventura sobrevivente aos anos de terror, numa cidade bombardeada e partida ao meio. Pois ainda que meu pai aprenda todas as línguas e devore todas as bibliotecas do mundo, talvez seja incapaz de concluir a grande obra da sua vida enquanto não suprir essa pequena ignorância dentro dele.”

Tangencia acontecimentos cotidianos da adolescência e revela sua amizade com pessoas que participavam de movimentos de esquerda no Brasil.

Inveja de garrafada

Revela, com sentimento de invídia, o uso da influência do irmão brasileiro na conquista de relacionamentos amorosos, que pouco tem a ver com a história.

briga-de-garrafa-1“Sob o letreiro em neon do Riviera Bar proponho um brinde, mas o Ariosto responde: prefiro não. E já na descida para casa ele relata entre dentes seu recente reencontro com o ex-amigo, ali mesmo no Riviera. Diz que bebia quieto sua cerveja no balcão quando o Udo chegou por trás e começou a cutucá-lo: está de volta, Che Guevara?, ficou de mal comigo, Che Guevara? No quinto Che Guevara o Ariosto diz que virou e disse: vai procurar teu papai, aquele nazista. E diz que o outro rebateu: pior é a tua mamãe, que meu pai comeu e é puta. Até aí tudo bem. Mas em seguida o Udo soprou a franja para o alto, e foi o que fez o Ariosto perder a cabeça. Agarrou o cara pelos cabelos, partiu a garrafa de cerveja na quina do balcão e com um estilhaço sangrou aquela pele de seda, abriu-lhe uma beiça do olho esquerdo à mandíbula.”

O livro não acrescenta muita coisa além do que já se sabe sobre os movimentos políticos e a história de pessoas que vivenciaram desencontros provocados por acontecimentos sociais, importunados por regimes totalitários e indivíduos indiferentes às carências dos que lhes cercam.

Chantagem frustrada

A história revela, também, o cotidiano de um filho, que figura como narrador, que na busca da atenção do pai tenta chantageá-lo através da descoberta da existência do irmão alemão, mas não encontra oportunidade para o diálogo necessário à conclusão do seu objetivo.

Ao que nos parece, o texto se apresenta como uma revelação mental conflituosa com inicio, meio e sem fim, como na maioria dos conflitos familiares.

Francisco Buarque de Hollanda

francisco-buarque-de-hollanda-1Nasceu no Rio de Janeiro, em 1944.

Cantor, compositor e ficcionista, publicou as peças Roda Viva (1968), Calabar (1973), Gota d´água (1975), e Ópera do Malandro (1979), a novela Fazenda modelo (1974) e os romances Estorvo (1991), Benjamim (1995), Budapeste (2003), Leite derramado (2009) e O irmão alemão (2014).

 

Referência Bibliográfica

O irmão alemãoO irmão alemão – Buarque, Chico, 1944 –
P502t
O irmão alemão [recurso eletrônico] / Chico Buarque. – São Paulo-SP: Editora Schwarcz S. A. / Companhia das Letras.
Formato: ePub
ISBN 978-85-438-0223-7
1. Romance brasileiro 2. Livros eletrônicos. I. Título.

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