O livro escrito em linguagem simples, direta e sem rodeios traz um tema interessantíssimo.
Trata-se de um estudo da história da humanidade, com um conteúdo perturbador, atribuindo ao leitor questionamentos sobre valores, comportamentos, crenças e o futuro da humanidade.
O trabalho desperta para uma reflexão sobre a origem do Homo sapiens e o prejuízo que a espécie causou e continuará causando na interação com a natureza.
Retrata a evolução desde a Idade da Pedra até a Revolução Tecnológica e Política, no mundo atual.
Capacidade cognitiva
Ao que nos parece, pelo fato de possuirmos capacidade cognitiva, nossa espécie foi responsável pela extinção de outras espécies de Homo nos últimos 50 mil anos, a exemplo das Homo soloensis, denisova e neandertal.
Nossa capacidade cognitiva não trouxe só vantagens quando nos comparamos às demais espécies, certamente, exigiu sacrifícios.
Pensar, manter-se em posição ereta, poder utilizar uma visão elevada e ter as mãos livres para desenvolver habilidades e defesa acarretou a necessidade de adaptações físicas.
Os benefícios confrontados aos demais animais nos traz, até hoje, comprometimentos a exemplo de dores nas costas, rigidez no pescoço e dores nas articulações proveniente da nossa postura.
Outro fato decorrente da evolução do Homo sapiens é a necessidade de reposição diária de energia. Sem ela o corpo não funciona a contento.
Ao compararmos os sapiens a outros animais observa-se que consumimos muito mais energia, só para mantermos o cérebro funcionando. Apesar do nosso cérebro equivaler a aproximadamente 3% do peso corporal ele é responsável pelo consumo de 25% da energia gasta pelo nosso corpo em repouso.
Não bastassem as desvantagens citadas, nossos filhos nascem prematuros, com muitos dos sistemas vitais ainda em desenvolvimento, enquanto os filhos da maioria dos animais se tornam, ao nascerem, rapidamente ou totalmente independentes. Só para citar alguns exemplos: o cavalo, o boi, o pinto, e a tartaruga nascem andando.
Características do Homo sapiens
O diferencial dos Homo sapiens surgiu com novas formas de pensar e se comunicar.
A Revolução Cognitiva, possivelmente, ocorreu acidentalmente através de mutações genéticas responsáveis por alterações das conexões internas do cérebro e possibilitou a espécie sapiens exercer o domínio sobre as demais.
O estilo natural foi substituído por escolhas culturais baseadas em um conjunto de possibilidades.
Realidade fictícia
A organização cultural do Homo sapiens está associada ao cooperativismo flexível.
Somos capazes de nos adaptar às crenças, mesmo sabendo que são baseadas em coisas fictícias.
Enquanto usamos a nossa capacidade de comunicação para criar novas realidades fictícias, os demais animais usam o sistema de comunicação para descrever um fato baseada em uma realidade biológica, sem floreios ou subterfúgios.
O fato dos homens acreditarem na realidade fictícia possibilitou à espécie o domínio do mundo.
Ela, a realidade fictícia, nos permite decidir sobre a participação em guerras, construção de igrejas, ambicionarmos subir ao céu, concordarmos com as estruturas políticas e sociais, participarmos das organizações econômicas, além de aceitarmos a moeda como unidade de troca.
Aliás, o dinheiro se estabeleceu como uma das irrealidades de maior sucesso da realidade fictícia. Enquanto ocorrem dissidências nas demais ficções, basicamente, todos acreditam no dinheiro como unidade de troca ou reserva independentemente de crenças, culturas e conflitos sociais.
Saímos de uma condição insignificante na pré-história para nos tornarmos dominadores da terra.
A diferença entre nós e os demais animais se baseia no fato de nos associarmos de forma flexível e de maneira ampla.
Os humanos se tornaram capazes de montar uma rede eficaz de cooperação – mesmo quando o fazem com objetivos toscos e deploráveis – porque vivemos em duas realidades: a objetiva e a fictícia.
Enquanto a realidade objetiva é determinada por uma lógica biológica, usada, também, pelos demais animais, a realidade fictícia tornou-se extremamente poderosa e será utilizada, mais intensamente, pelas instituições no domínio dos povos, da economia, da ecologia e da sobrevivência da própria realidade objetiva.
Por que consumimos doces
Como viviam os sapiens após o período compreendido entre a Revolução Cognitiva e a Revolução Agrícola?
Como eram as relações interpessoais, a sexualidade, as relações políticas dos nossos ancestrais no período de 70 mil e 12 mil anos atrás?
Por que somos afeitos a consumir produtos doces e gordurosos?
A resposta, possivelmente, está nas dificuldades alimentares dos nossos ancestrais que recomendavam o consumo exagerado de determinados produtos, quando disponíveis, como forma de estocar energia?
Revolução cognitiva
“A partir da Revolução Cognitiva, as narrativas históricas substituem as narrativas biológicas como nosso principal meio de explicar o desenvolvimento do Homo sapiens. Para entender a ascensão do cristianismo ou a Revolução Francesa, não basta compreender a interação entre genes, hormônios e organismos. É necessário, também, levar em consideração a interação entre ideias, imagens e fantasias. Isso não significa que o Homo sapiens e a cultura humana tenham se tornado isentos de leis biológicas. Ainda somos animais, e nossas capacidades físicas, emocionais e cognitivas continuam sendo moldadas por nosso DNA.”
O Homo sapiens migrou do continente africano para o Oriente Médio, Europa, Ásia, Austrália e, finalmente, a América.
Subiu ao topo da cadeia alimentar e tornou-se a espécie mais mortífera do planeta através das habilidades organizacionais e do domínio da tecnologia.
“Apenas algumas poucas ilhas extremamente remotas escaparam do olhar do homem até a idade moderna, e essas ilhas mantiveram sua fauna intacta. As ilhas Galápagos, para dar um exemplo famoso, permaneceram inabitadas por humanos até o século XIX, preservando assim sua coleção única, incluindo suas tartarugas-gigantes, que, como os antigos diprotodontes, não têm medo de humanos.”
Revolução agrícola
O Homo sapiens não estava adaptado para a realização das tarefas que envolvem o cultivo.
A Revolução Agrícola trouxe prejuízo para a estrutura física quando passou a exigir sobrecarga na coluna, no joelho, nos pés e pescoço.
Obrigou mudanças no comportamento e domesticação do sapiens e o fez deixar de ser nômades e fixar residências, para aguardar os ciclos culturais e colher o que plantava.
Há uma inversão no entendimento a respeito da domesticação, cuja palavra vem do latim “domus” que significa “casa”. Nos leva a crer que quem foi domesticado foi o Homo sapiens, os cães e os gatos. As plantações e as criações não se enquadram no conceito literal do domínio.
“Nas últimas décadas, inventamos inúmeros instrumentos que supostamente economizam tempo e tornam a vida mais fácil – lavadoras de roupa e de louça, aspiradores de pó, telefones, aparelhos celulares, computadores, e-mail. Antes, dava muito trabalho escrever uma carta, endereçar e selar um envelope e levá-lo até o correio. Levava-se dias ou semanas, talvez até meses, para obter uma resposta. Hoje em dia eu posso escrever um e-mail às pressas, enviá-lo para o outro lado do mundo e (se meu destinatário estiver on-line) receber uma resposta um minuto depois. Economizei todo aquele trabalho e tempo, mas tenho uma vida mais tranquila? Infelizmente, não. Antes, as pessoas só escreviam cartas quando tinham algo importante para relatar. Em vez de escrever a primeira coisa que lhes vinha à cabeça, consideravam cuidadosamente o que queriam dizer e como expressá-lo. Esperavam receber uma resposta igualmente atenciosa. A maioria das pessoas escrevia e recebia não mais de um punhado de cartas por mês e raramente se sentia compelida a responder de imediato. Hoje recebo dezenas de e-mails todos os dias, todos de pessoas que esperam uma resposta imediata. Pensamos que estávamos economizando tempo; em vez disso, colocamos a roda da vida para girar a dez vezes sua velocidade anterior e tornamos nossos dias mais ansiosos e agitados. ”
Enquanto os defensores da Revolução Agrícola juram que ela se tornou o caminho para o progresso os seus críticos perseveram que ela tenha levado a humanidade à perdição, considerando que o Homo sapiens abdicou da convivência simbiótica com a natureza e enveredaram na direção da ambição alimentar.
O registro é apenas uma questão antropológica, até porque o retorno ao passado acarretaria um suicídio generalizado considerando a necessidade do abastecimento alimentar da humanidade.
Taxonomia
A Taxonomia é o ramo da biologia e da botânica responsável por descrever, identificar e classificar os seres vivos.
A classificação é feita com base nas características fisiológicas, evolutivas, anatômicas e ecológicas.
As principais características taxonômicas são: reino, filo, classe, ordem, família, gênero e espécie.
Um grupo de organismos que se reproduz entre si e são capazes de produzir descendentes férteis é considerada uma espécie, contudo, não se surpreenda com a possibilidade do Homo sapiens ter acasalado com outras espécies de Homo, não sapiens, vez que no nosso DNA possuímos genes do Homo neandertal.
O surgimento do Homo sapiens
Os remanescentes do Homo soloensis desapareceram há 50 mil anos, os do Homo denisova desapareceram em seguida, o Homo neandertal desapareceram há 30 mil anos e os últimos humanos diminutos desapareceram há 12 mil anos.
Quando será a nossa vez de desaparecer?
O Homo sapiens surgiu na África Oriental há cerca de 2,5 milhões de anos a partir de um gênero de primatas chamado Australopithecus.
Estamos classificados no reino Animalia, no filo Chordata, na classe Mammalia, na ordem dos Primatas, na família dos Hominidae, no gênero Homo e na espécie sapiens.
Estender-se, ainda mais, nesta resenha seria um risco, até porque, por tratar-se de um trabalho histórico e reflexivo retiraria do leitor a oportunidade de extrair suas próprias conclusões.
Possivelmente, afrontaria alguns valores religiosos e éticos.
Para os mais idosos, uma reflexão importantíssima.
Para os jovens, uma ensinamento de como o mundo se movimento!
Recomendadíssima a leitura!
Onde comprar
Sapiens – Livraria Saraiva
Sapiens – Livraria Cultura
Sapiens – Submarino
Yuval Noah Harari
O autor nasceu em 24 de fevereiro de 1976, em Israel, especializou-se em história medieval e militar, antes de completar seu doutorado no Jesus College, Oxford, em 2002. Desde então, ele tem publicado numerosos livros e artigos, incluindo Sapiens: Uma breve História da humanidade (2014); Renaissance Military Memoirs: Guerra, História e identidade, 1450–1600 (2004); Operações especiais da era do cavalheirismo, 1100–1550 (2007); A última experiência: Revelações do campo de batalha e a criação da guerra cultural moderna, 1450–2000 (2008).
E especializado em História mundial e processos da macro-história. Sua pesquisa se concentra em questões da macro-história, tais como: Qual a relação entre a História e a Biologia? Qual a diferença fundamental entre o Homo sapiens e outros animais? Existe justiça na História? A História tem uma direção? Será que as pessoas se tornaram mais felizes com o passar do tempo?
Harari ganhou duas vezes o Prêmio Polonsky por Criatividade e Originalidade, em 2009 e 2012.
Em 2011 ele ganhou o prêmio Moncado de História militar para a sociedade pelos artigos de destaque na História militar.
Em 2012 ele foi eleito para academia Jovem Israelita de Ciências.