O autor declarou, em entrevista, ter recebido um convite para escrever sobre um dos pecados capitais.
A escolha da luxúria, possivelmente, foi levada por recordações fantasiosas vividas, na Bahia, por uma juventude inquietada devido aos movimentos liberais que questionavam valores sociais, políticos e religiosos.
O uso de drogas estimulava a liberdade e liberalidade sexual que terminava com a prática de relações, muitas das vezes, voluptuosas.
Recordar esses fatos serviu de estimulo para o autor da obra, narrada por uma protagonista que se dedicou aos prazeres do sexo.
A linguagem utilizada pode aproximar-se da vulgaridade, contudo, altera-la para uma menos pornográfica, possivelmente, não atingiria o objetivo de retratar ambientes que beiram à promiscuidade, tampouco afrontaria as castas sociais mais puritanas, apesar dessas, quando se deparam com situações semelhantes às relatadas pela protagonista, não se distanciarem muito daquele contexto.
A verdade matou Sinho?
“Como dizia o velho Matosinho, na faculdade, a verdade dói, a verdade machuca, a verdade contunde, a verdade fere, a verdade maltrata, a verdade mata — o velho Matosinho era um estilista baiano, no pioríssimo sentido da palavra, mas tinha óbvia razão. Como tinha razão Nelson Rodrigues: se todo mundo soubesse da vida sexual de todo mundo, ninguém se dava com ninguém.”
Pecado, Freud explica?
O desejo sexual passional, egoísta e sem limites pode ser visto como um distúrbio da personalidade.
A doutrina cristã optou por considerar a luxúria com uma deformidade social: um pecado.
Considerando-se pecado, ao que nos parece, o autor não deixou nada de fora, inclui, inclusive, as relações incestuosas que a psicanálise trata com Complexo de Édipo.
O texto é divertido e o leitor, possivelmente, se sentirá pecador se não rechaçar alguns dos acontecimentos. Afinal, o conjunto pode ser pecado, mas, algumas práticas não passam da trivialidade responsável pelo prazer que estimula a reprodução humana…
João Ubaldo Ribeiro
Nasceu na Ilha de Itaparica em 1941, começou a escrever aos vinte e um anos, publicou Sargento Getúlio, Viva o Povo Brasileiro, A casa dos budas ditosos, Diário do farol, entre outros.
É membro da Academia Brasileira de Letras e recebeu o prêmio Camões, atribuído aos maiores escritores da língua portuguesa.
Referência bibliográfica
Ribeiro, João Ubaldo, 1941 – 2014.
A casa dos budas ditosos [recurso eletrônico] : luxúria / João Ubaldo Ribeiro. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2010.
Formato: ePub
127p. ISBN 978-85-390-0162-0 [recurso eletrônico]
1. Ficção brasileira. 2. Livros eletrônicos. I. Título. II. Título: Luxúria. III. Série
10-5133. CDD: 869.93
CDU: 821.134.3(81) -3