A história conta a dificuldade das famílias que habitaram a caatinga, nas margens do rio São Francisco, que divisa os estados da Bahia, Alagoas e Pernambuco.
Os que conhecem a região são atraídos pela forma que caracteriza o contexto.
Política e sociologia
Os fatos políticos e a composição sociológica, acrescidos do detalhamento, não cansativo, do cenário que emoldura a trama enriquece o texto e fascina o leitor.
A narrativa nos remete à década de trinta, onde os movimentos políticos, liderados por Getúlio Vargas, se contrapõem com a magnitude climática, cuja seca dizima tudo e a todos e a chuva, quando aparece, faz renascer a esperança, provoca o rebroto da flora enquanto desperta a hibernação protetora da flora.
Duas irmãs, marcadas pelo sofrimento, decidem caminhar em sentidos opostos.
Uma, na tentativa de se desvencilhar da subserviência caótica, arranja um relacionamento, nada comum à época, e se desloca para a cidade litorânea do Recife.
A outra ignora a esperança, se deixa raptar por um bando de cangaceiros.
Latifúndio e atrocidades
A história centrada nas dificuldades de pessoas nascidas em ambientes insalubres, desprovidos de conforto e submetidas às atrocidades dos coronéis latifundiários, margeia a conhecida saga de Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, famoso cangaceiro decapitado na Grota do Angico, às margens do rio São Francisco, por tropa do governo.
A Revolução de 1930 levou Getúlio Vargas ao poder e exerceu ações repressivas, na caatinga, com o intuito de exterminar os bandos de justiceiros do nordeste brasileiro, à época apoiados pela população carente e alguns coronéis, latifundiários, em troca de segurança pessoal.
Êxodo rural
A seca castigava e a falta de condições mínimas para sobrevivência obrigou a população a migrar para as periferias das grandes cidades.
Muitos dos que permaneceram na caatinga presos às origens ou sem poder de decisão sobre suas vidas, diante da falta do mínimo necessário à sobrevivência, foram recebidos em campos de refugiados da seca, montados pelo governo, na tentativa de frear o êxodo rural. Outros, por falta de opções, morreram de sede e fome.
Saga do cangaço
O texto percorre a saga do cangaço, matizada com histórias familiares que caracterizam os valores sociais à época. Apesar de extenso, flui com naturalidade devido à forma, transporta o leitor para uma reflexão dos aspectos regionais que continuam intrínsecos ao povo catingueiro.
Basta conhecer a Grota do Angico, local que Lampião e seu bando foram decapitados, para começar a entender a dicotomia.
Um sol escaldante mantém a vegetação que parece trincar ao movimento de uma cascavel, lá embaixo, o rio corre caudaloso, depois de represado pela barragem de Xingó, enquanto os ribeirinhos observam a água correr no leito do Velho Chico e conservam a esperança de dias melhores.
Frances de Pontes Peebles
É filha de mãe pernambucana e pai norte-americano, nasceu no Recife, Pernambuco.
É formada em letras pela Universidade do Texas, em Austin, fez mestrado no Writers’ Workshop da Universidade de Iowa. Mora em Chicago, Illinois, e todo ano passa férias em seu sítio em Taquaritinga do Norte, Pernambuco.
Ganhou os prêmios Friends of American Writers Award for Fiction e Elle Magazine’s Grand Prix 2008.
Referência bibliográfica
Peebles, Frances de Pontes
A costureira e o cangaceiro / Frances de Pontes Peebles; Tradução de Maria Helena Rouanet.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
Tradução de: The seamstress.
620p.
ISBN 978-85-209-2168-5
1. Romance americano. I. Rouanet, Maria Helena, 1950. II. Título.
(R)
Li o livro a pouco tempo, sei que é um ficção com base em pesquisa bem feita sobre um passado que a maioria quer esquecer, devido as crueldades, que se assemelham a certos filmes de terror. Porem lendo atentamente o livro se pode tirar dele vários entendimentos de como funcionava a mistura de poderes entre um estado ainda “engatinhando” em um território enorme e os Coronéis e Cangaceiros que conseguiam sobreviver em meios a caatinga seca e hostil.