Albert Camus escolhe a cidade de Oran, confinada entre o mar e suas portas cerradas, para simbolizar a ocupação nazista na França.
A doença disseminada pelos ratos que saiam dos esgotos, dos porões e das fábricas invade a cidade.
Dominador versus dominado
Contaminada a população obriga seus dirigentes a aguardarem, pacientemente, o fim do processo dominador.
Uma espécie de atitude de inferioridade que o ser humano assume quando se depara com determinadas situações.
A cidade que serve de palco para a história é finita, apesar do horizonte marítimo.
Seus limites físicos servem para simbolizar a impotência em relação ao poderio armamentista da Alemanha na Segunda Guerra Mundial.
Ocupação nazista, vivos e mortos
A peste bubônica ataca a cidade e mata, diariamente, um número razoável de concidadãos, como se refere o autor, tempo em que os vivos, sem saber quando serão escolhidos pela peste, aguardam pacientemente e ordeiramente o destino, restando-lhes, apenas, a prática da solidariedade.
O relato simbólico da peste foca as relações pessoais, a amizade não declarada, a prática do bem, o questionamento de valores religiosos, a família, o sofrimento taciturno e introvertido, a separação amorosa e os privilégios das classes sociais mais poderosas.
A peste atacou bons e maus, adultos e crianças, religiosos e ateus.
Não se sabia o antídoto da defesa, por isso, submeteram-se a imposição.
O remédio veio com o tempo.
O soro da liberdade foi anunciado com veemência e recebido pela população com alegria e festejo.
Mesmo na calamidade a desigualdade
A fraternidade foi exercitada durante todo processo simbólico, contudo, a desigualdade se apresentou na forma de acesso aos gêneros alimentícios, nas quarentenas e, apesar do sofrimento, não remeteu a mudanças significativas.
“Na realidade, um homem deve lutar pelas vítimas. Mas, se deixa de gostar de todo o resto, de que serve lutar?”
Importância da obra
A analogia entre a impotência humana sob a epidemia e a exclusão da liberdade é a trama escolhida para despertar as agruras da humanidade.
O autor exige uma moral simultânea de conhecimento da necessidade e o exercício de poder.
Albert Camus
Nasceu em 7 de novembro de 1913, uma pequena localidade da Argélia, conhecida durante a ocupação francesa pelo nome de Mondovi. Viveu sob o signo da fome, da guerra e da miséria.
A obra do escritor, ensaísta, romancista, dramaturgo e filósofo terminou sendo orientada pelos citados elementos que ajudaram na formação do pensamento crítico e filosófico.
Morreu em 4 de janeiro de 1960, aos 46 anos, na pequena comuna francesa Villeblevin, região administrativa da Borgonha, vítima de um acidente de trânsito.
O tradutor checo Jan Zabrana sugeriu em seu diário, publicado postumamente, a possibilidade de Dimitri Shepilov, Ministro das Relações Exteriores da URSS, ter encomendado o assassinato de Albert Camus, devido à oposição que ele vinha fazendo ao massacre soviético na repressão à Revolução Húngara de 1956.
Os stalinistas e de simpatizantes dos comunistas começaram a detestar Albert Camus a partir da citação feita, por ele, ao poeta americano Walt Whitman que assegurara “sem liberdade, nada pode existir”.
Camus perdeu o pai, Lucien, em 1914, cuja família era da Alsácia, França, na batalha do Marne, durante Primeira Guerra Mundial, fato que obrigou a mudar-se com a sua mãe, Cathérine Sintès, uma marroquina de origem espanhola, para a casa de sua avó materna, em Argel.
Durante a infância, morando na casa da avó, Camus teve o apoio do professor Louis Germain, que previu para ele um futuro próspero e estimulou à sua mãe a procurar por uma bolsa de estudos no liceu de Argel.
Apesar das dificuldades financeiras, Camus decidiu continuar os estudos na escola secundária, mesmo familiarizado com o trabalho na oficina do seu tio. A continuidade da formação filosófica de Camus deveu-se ao professor Jean Grenier, homenageado, por Camus, que dedicou a ele o livro ‘O Homem Revoltado’.
A monografia de mestrado de Camus versou sobre o neoplatonismo, que relata sobre doutrinas direcionadas para os aspectos espirituais e cosmológicos do pensamento platónico.
Na tese de doutorado, Camus, aborda aspectos relacionados a obra de Santo Agostinho, considerado um dos mais importantes teólogos e filósofos dos primeiros anos do cristianismo.
Após concluir o doutoramento foi acometido por uma intensa crise de tuberculose, que o impediu de lecionar e praticar esportes.
Ao visitar o Brasil, no período de 5 a 7 de agosto de 1949, proferiu várias palestras e conheceu, em companhia de Oswald de Andrade, a festa em louvor ao Senhor Bom Jesus de Iguape.
A visita ao Brasil lhe rendeu um conto ‘A Pedra que brota’ editado no livro ‘O Exílio e o Reino’.
Em 1938, ajudou a fundar o jornal Alger Républicain e durante a Segunda Guerra Mundial, Camus colaborou com o jornal Paris-Soir.
Pouco antes da invasão alemã, em 1939, mudou-se para a França, devido as discórdias com as autoridades francesas dominantes na Argélia, por não concordar com a discriminação e restrições aos árabes, que não tinham direito a voto, suas crianças eram mal alimentadas e sem acesso ao atendimento médico. Nesta época Camus era membro do Partido Comunista.
Devido a ocupação nazista na França mudou-se de Paris para a região de Vichy, França, e participou do Núcleo de Resistência à Ocupação, tornando-se um dos editores do jornal Combat.
Camus conheceu Jean-Paul Sartre, em 1942, após elogios recebido de Sartre referente ao livro ‘O Estrangeiro’.
Posteriormente se desentenderam publicamente, em 1952, devido à crítica feita por Sartre a respeito da obra ‘O Homem Revoltado’, na qual Camus critica o regime comunista soviético, do qual Sartre fazia parte.
Camus foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura de 1957 “por sua importante produção literária, que, com seriedade lúcida ilumina os problemas da consciência humana em nossos tempos”.
Ao proferir o discurso agradecendo o prêmio, disse que o artista além de divertir o público deve “comover o maior número possível de homens, oferecendo-lhes uma imagem privilegiada dos sofrimentos e das alegrias comuns”.
Camus afirma que as pessoas procuram incessantemente o sentido da existência numa vida que carece de sentido e na qual só é possível ganhar a liberdade e a felicidade com a rebelião.
Escreveu Revolta nas Astúrias (1936), O Avesso e o Direito (1937), Núpcias (1939), O Mito de Sísifo (1942), O Estrangeiro (1942), A Peste (1947), O Estado de Sítio (1948), Os Justos (1949), O Homem Revoltado (1951), O Verão (1954), A queda (1956), Reflexões sobre a Pena Capital (1957), O Exílio e o Reino (1957), A Morte Feliz (obra póstuma 1971) e quatro peças teatrais O Mal-entendido (1944), Os justos (2008), Calígula) (1941), Estado de Sítio (1948), além de várias crônicas.
Questões observadas nas obras de Dostoiévski e Franz Kafka aproximaram Camus dos dilemas e conflitos filosóficos evidenciados pelos citados autores, identificadas como fenômeno estético filosófico do absurdo.
Albert Camus é considerado um dos escritores mais importantes do século vinte, devido a sua aversão ao totalitarismo presente na sua obra.
Referência bibliográfica
Camus, Albert, 1913-1960
A peste / Albert Camus; tradução de Valerie Rumjanek Chaves. – 18ª Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2009.
218p.
Tradução de: La peste
ISBN 987-85-01-01487-0
Romance francês. I. Chaves, Valerie Rumjanek.II.Título
(R)
Voce esta escrevendo de uma forma excelente….o compacto apresentado foi de um simplicidade mas com conteúdo permitindo a compreensão do texto contido no livro….
Parabéns. Dá gosto ler seus textos.
Camus em ''A Peste'' deixa para nós um exemplo de reflexão em relação à vida,ao bem e ao amor que devemos ter uns pelos outros reencarnando essa ideia no personagem principal:o médico Bernard Rieux e o seu amigo durante a conversa que ambos tem no terraço de uma casa onde diante de toda a angústia e degradação que a peste causa existe sim uma esperança por salvação no caso também não só da cidade de Oran mas também da alma humana.Muito recomendada a obra!!!Obrigado Camus!!