O livro é curto e intenso. Paul Auster escolhe como temas a tolerância nas relações amorosas, a solidão e as dificuldades para construção de novas relações afetivas com o avançar da idade. Aborda reflexões sobre as agruras da morte tangenciando ensinamentos junguianos e crenças religiosas.
Baumgartner é o último livro escrito pelo autor antes da sua morte, aos 77 anos, ocorrida em 30 de abril de 2024. Ao que parece o texto carrega algumas abordagens autobiográficas que ajudam a valorar, ainda mais, a obra.
O protagonista presencia a morte da sua esposa, Anna, e entra em conflito mental (apesar de não admitir) sobre a tolerância aos limites impostos na relação conjugal. Se por um lado o respeito às escolhas individuais ajudou a manter o casamento por muitos anos a intolerância aos limites poderia ter evitado o ocorrido, mesmo tratando-se de uma pessoa impulsiva e voluntariosa.
“Você sabe disso, eu sei disso, todo mundo sabe e, quem não sabe, bom, não está prestando atenção. E, se você não presta atenção, não está de todo vivo.”
Após a morte da esposa o protagonista ocupava o tempo arrumando, nas gavetas e nos armários, as coisas de uso pessoal de Anna até abrir as gavetas onde haviam sido deixados os manuscritos inéditos. Eram mais de duzentos poemas escritos por Anna. Decidiu por divulgar a obra.
“As pessoas morrem. Morrem moças, morrem velhas, morrem aos cinquenta e oito anos. Eu sinto falta dela, isso é tudo. Era a única pessoa no mundo que amei, e agora tenho de encontrar uma maneira de continuar a viver sem ela.”
Dez anos após a morte de Anna, Baumgartner apaixonou-se por Judith Feuer, uma professora de estudos cinematográficos, contudo, a diferença de idade entre eles era de dezesseis anos. Judith tinha 54 anos. Como seriam os próximos dez ou vinte anos de convivência? A inquietação de Baumgartner e o posicionamento de Judith surpreendem.
O protagonista se questionava como ocorreu apaixonar-se por duas mulheres tão diferentes. Teria sido a solidão?
“A solidão mata, Judith, come a gente pedaço por pedaço até que todo o corpo seja devorado. Uma pessoa não vive sem estar conectada a outras. E, se você tem a sorte de estar profundamente ligada a outra pessoa, tão ligada que essa outra pessoa seja tão importante para você quanto você é para si própria, então a vida se torna mais que possível, se torna boa.”
Ao final o protagonista planeja a visita de Beatrix Coen, que decidiu por estudar a obra de Anna, cujo temperamento se assemelha ao da falecida. No mais, só lendo para conhecer a última história do Paul Auster.
Recomendo a leitura!
Paul Benjamin Auster
Nasceu nos Estados Unidos em 3 de fevereiro de 1947 e morreu, aos 77 anos, em 30 de abril de 2024. Licenciou-se em 1970 na Universidade de Columbia e viveu durante quatro anos na França o que lhe rendeu familiaridade com a literatura francesa. Foi admirador de André Breton, Paul Éluard, Stéphane Mallarmé, Sartre. Sofreu influências de Dostoiévski, Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald, Faulkner, Kafka, Samuel Beckett e Marcel Proust. Escreveu mais de 30 livros dentre os quais Cidade de vidro (1985), Palácio da lua (1989), A invenção da solidão (1982) e Leviathan (1992).