A metodologia excêntrica para análise econômica exposta por Steven D. Levitt em seu livro Freakonomics é inusitada.
Parte do exame de questões bem formalizadas na busca de respostas que possam ajudar a sociedade desvendar situações – aparentemente desconectadas com a problemática estabelecida – que influenciam diretamente no resultado econômico.
Como elaborar perguntas…
“Seria tolo argumentar que a sabedoria convencional nunca é verdadeira, mas perceber onde ela pode ser falsa — percebendo, quem sabe, os indícios de um raciocínio apressado ou interesseiro — é um bom ponto de partida para elaborar perguntas.”
Como fazer boas perguntas?
“O simples fato de uma pergunta nunca ter sido feita antes não lhe confere qualidade. Gente inteligente vem perguntando há séculos, mas muitas perguntas que jamais foram feitas estão fadadas a receber respostas que não interessam a ninguém. Contudo, se você for capaz de lançar uma pergunta sobre algo que realmente interessa e descobrir uma resposta capaz de surpreender os interessados – ou seja, se conseguir virar do avesso a sabedoria convencional – pode ser que se dê bem.”
As questões formuladas no texto podem parecer frívolas, contudo, as análises do contexto levam a conclusões inesperadas. Por exemplo:
– Se os traficantes de drogas ganham tanto dinheiro, por que ainda moram com suas mães?
– O que é mais perigoso, uma arma ou uma piscina?
– Qual foi, realmente, o fator responsável pela queda do índice de criminalidade na década passada?
– Por que os casais negros dão aos filhos nomes que podem prejudicar suas chances profissionais?
– Os professores trapaceiam para conseguir boas avaliações?
– O sumô é um esporte corrupto?
– Qual a relação entre criminalidade e legalização do aborto?
Incentivos, fatores determinantes
Em relação à manipulação dos incentivos o autor cita três fatores decisivos: econômico, social e moral.
“É muito comum que um único esquema de incentivos inclua as três variedades. Tomemos a campanha antitabagista dos últimos anos. O acréscimo da “taxa do pecado” de $3 em cada maço é um forte incentivo econômico contra a compra de cigarros. A proibição do fumo em restaurantes e bares é um poderoso incentivo social. E a afirmação do governo americano de que os terroristas angariam fundos com a venda de cigarros no mercado negro atua como um incentivo moral bastante estridente.”
A legalização do aborto e a consequente redução da criminalidade
A relação entre a criminalidade e a legalização do aborto, chegou-se à conclusão que a primeira foi reduzida considerando que a maioria dos abortos são praticados por mulheres de baixa renda, cujos filhos são mais vulneráveis.
Diante da dificuldade moral e religiosa para a aceitação desse fato os políticos preferem justificar a redução da criminalidade tomando por base o aumento da quantidade de policiais.
Vejamos:
“Esse famoso processo viria a produzir um efeito drástico no futuro distante: anos mais tarde, justamente quando essas crianças não-nascidas atingiriam a idade do crime, o índice de criminalidade começou a despencar. (…) Algum desavisado poderia examinar esses números e concluir que esses policiais a mais sejam a razão do número maior de crimes. Esse raciocínio obtuso, que tem uma longa história, em geral produz uma reação obtusa, como na lenda do czar que foi informado de que a província com maior incidência de doenças era também a que contava com mais médicos. Sua solução? Mandou imediatamente fuzilar todos os médicos.”
As armas são as únicas responsáveis pelo aumento da criminalidade?
“As armas, contudo, não são as únicas responsáveis. Na Suíça todo homem adulto recebe um rifle para o serviço militar juntamente com a permissão para guardá-lo em casa. Numa proporção per capita, a Suíça tem mais armas de fogo do que qualquer outro país, mas mesmo assim é um dos lugares mais seguros do mundo. Em outras palavras, as armas não causam os crimes. Dito isso, os métodos americanos usados para manter as armas longe do alcance de pessoas capazes de cometer crimes são, na melhor das hipóteses, insuficientes.”
Medo de avião
Quando uma pessoa diz ter medo de avião, na realidade está subentendido que está com medo de morrer.
Vejamos a diferença percebida entre o avião e o carro…
“Sendo assim, o que realmente devemos temer mais, o avião ou o carro? Talvez valha a pena fazer primeiro uma pergunta mais básica: de que, exatamente, temos medo? De morrer, supostamente. Mas o medo da morte precisa ser delimitado. Claro que sabemos que vamos morrer e nos preocupamos acidentalmente com isso, mas se lhe disserem que você tem 10% de possibilidade de morrer no ano que vem, sua preocupação aumentará muito e talvez você até decida viver de maneira diferente. E se for informado de que tem uma possibilidade de 10% de morrer no próximo minuto, você provavelmente entrará em pânico. Assim, é a possibilidade iminente da morte que detona esse medo — o que significa que o modo mais lógico de calcular o medo da morte seria pensar nele em termos de horas.”
O número de livros em casa determina o rendimento escolar?
Necessariamente, não. Outros fatores podem ser mais determinantes a exemplo da renda familiar ou a importância dada pela família ao que se refere à formação acadêmica.
“Os dados do estudo mostram, por exemplo, que uma criança cuja casa tem muitos livros em geral tira notas mais altas do que outra sem livros em casa. Mas as notas altas também estão correlacionadas a muitos outros fatores. Se compararmos apenas crianças com muitos livros e crianças sem livros, a resposta pode não ser representativa. Talvez o número de livros na casa de uma criança aponte tão-somente para o nível de renda de seus pais. A comparação que realmente se deseja fazer é entre duas crianças iguais em tudo, exceto numa coisa – no caso, o número de livros em casa –, para ver se esse único fator influencia o desempenho escolar.”
O livro não tem um tema único. Baseia-se na análise de temas cotidianos que buscam um raciocínio lógico sobre o comportamento humano. Olhar, discernir e avaliar são tarefas eficazes para a construção de um raciocínio com vistas a identificar a relação entre fatos aparentemente desconectados, mas, que estão diretamente convergentes.
Recomendo a leitura!
Steven David Levitt
Nasceu em Nova Orleães, 29 de maio de 1967, é um economista americano e professor da Universidade de Chicago.
Laureado em 2003 com a Medalha John Bates Clark. Conhecido por seu livro Freakonomics, de 2005, em parceria com Stephen J. Dubner, onde usa a teoria econômica para explicar de forma inusitada fenômenos da vida cotidiana.
Doutor pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Os interesses de Levitt estão distantes da economia convencional. Se interessa pelo dia-a-dia e seus enigmas. Pocura desvendar a maneira como o mundo funciona.