Se existe pecado, a inveja é considerada o mais presente na humanidade.
O sentimento ou a pratica de ações consideradas invejosas, certamente, muitos de nós resistimos a aceitar.
No entanto, ao nos depararmos com atitudes estranhas de pessoas que nos cercam nos ambientes profissionais, sociais ou até mesmo familiares, logo, nos apressamos a justificar essas ações como práticas invejosas.
Características do invejoso
O invejoso ignora seus valores em detrimento das conquistas dos que lhe cercam.
A inveja na forma de ciúme não é aceita no texto Bíblico. A palavra vem do latim invidia, que quer dizer olhar com malícia.
Não seria exagero afirmar que existem pessoas que buscam conquistas, única e exclusivamente, para despertarem o sentimento da inveja.
Elas querem ter ou ser para provocarem a pratica da maldade pelos indivíduos que o cercam!
O que dizer desse comportamento? Que pecado é este? Seria vaidade?
A inveja pode ser confundida com a avareza, outro pecado capital, que se caracteriza pelo desejo exacerbado por riqueza material que pode ou não pertencer a outros.
Inveja, ser ou tomar pra si
Pesquisas mostram que desejar ser parecido com o outro ou ter o que o outo possui, necessariamente, não se caracteriza uma atitude invejosa, mas, se o indivíduo quiser ser o outro ou tomar dele o objeto desejado, isso, sim, é inveja.
Cobiçar, desejar parecer
No primeiro caso, desejar ser o outro ou ter o que ele possui, o pecado que caracteriza a prática é a cobiça.
De um modo geral, as religiões tratam a inveja como um mal a ser combatido.
Enquanto elas, as religiões, combatem a prática recomendando o uso do castigo os psicólogos e psiquiatras preferem abordar o tema como um distúrbio mental a ser ajustado.
Vou-me ater em reproduzir algumas citações do simpaticíssimo autor, até para não parecer um pecador invejoso ou cobiçador de meia-tigela.
Ele conseguiu tratar um malvisto tema de forma adocicada ao introduzir uma bela e atraente mulher na história.
Um sentimento inesgotável
“Acho que ouvi mais do que falei. Dorrit disse que era fascinada pelo tema porque se tratava de um sentimento inconfessável e tão insidioso que fazia com que os outros seis pecados parecessem até “invejáveis”. Podia-se controlar a cobiça e acalmar a ira. Seria possível sublimar a luxúria e saciar a gula; o orgulho não chegava a ser mortal e a preguiça não era um estado irreversível. Mas a inveja, não, ela era inesgotável, um eterno descontentamento consigo mesmo.”
Infeliz com a felicidade
“Como eu iria ver depois em quase todos os estudos sobre o tema, esse sentimento sempre condenado, um dos mais antigos pecados da humanidade, certamente o mais inconfessável, se caracterizava por tornar alguém infeliz pela contemplação da felicidade alheia.”
“Ao contrário do amor, em torno do qual cantores e poetas construíram as mais belas imagens, não se conhece uma nobre metáfora sobre a inveja. O invejoso destila veneno, olha enviesado, fala com maldade, disfarça, escamoteia e dá mordidas traiçoeiras.”
Motivos para destilar o veneno
“A jovem que morria de inveja do nome da amiga que era o de um prenome de flor. O rapaz que invejava os dentes caninos do irmão. A mulher que não podia suportar os dedos tão bem-feitos dos pés do marido. Filhos invejando pais e vice-versa. O homem rico que invejava os mendigos porque eles conseguiam se reunir, conversar uns com os outros, enquanto ele, apesar da fortuna, não conseguia ter mulher, filhos, amigos.”
“…não se devia confundir inveja com cobiça. A inveja é destrutiva, a cobiça é competitiva.”
“O invejoso torce para que você, ao tirar sua ária no violino, arrebente uma das cordas. Ele é mesquinho. Ele não suporta o seu sucesso. Eu não quero que você tenha uma síncope, caia e morra. Eu quero é o seu fiasco. Quero que a turma ria de você. Quero que alguma coisa atrapalhe. E se puder tecer algo sem que se perceba, ele faz. O invejoso tem muito isso: a carta anônima, o trote, a provazinha de batom, a pista.”
O autor, Zuenir Ventura, conclui, de forma brilhante, que o verdadeiro amigo é aquele que suporta o seu sucesso e o invejoso, em sua maioria, tem satisfação em lhe apoiar quando das suas derrotas.
Zuenir Ventura
Nasceu em Além Paraíba, MG, em 01/06/1931.
Jornalista e escritor é diplomado em Letras Neolatinas.
Em 1956 começou a trabalhar Tribuna da Imprensa.
Certo dia, Carlos Lacerda, o diretor do jornal, pediu-lhe um texto sobre Albert Camus que lhe credenciou a ser transferido para a redação do jornal.
Em 1960 ganhou uma bolsa de estudos do governo francês para estudar no Centro de Estudos de Formação de Jornalistas.
A partir daí fez uma longa carreira na grande imprensa: Correio da Manhã, Fatos e Fotos, Diário Carioca, O Cruzeiro, Veja, Visão, Isto É, Jornal do Brasil, onde dirigiu o Caderno B Especial e criou o Caderno Ideias.
Trabalhou sempre na área editorial fazendo o que mais gosta: jornalismo cultural.
Costuma dizer que sua carreira é uma pirâmide invertida.
Depois do primeiro livro, passou de chefe a repórter e cronista.
Atualmente é colunista do O Globo e da revista Época.
Seu primeiro livro – 1968: o ano que não terminou (1988) – fez um balanço da época e ficou várias semanas na lista dos mais vendidos. Outros livros: Cidade partida (1994), Inveja: O mal secreto (2001), Chico Mendes: crime e castigo (2003), e As vozes do golpe (2004).
Referência bibliográfica
Ventura, Zuenira
Mal Secreto – Inveja / Zuenir Ventura. – Editora Objetiva, 1998.
268p.
ISBN: 8573022051
1. Romance Nacional – I. Título.