Um reboliço foi criado na vida do casal ao ser informado, pelo médico, que o filho, Felipe, era portador de trissomia do cromossomo 21.
Este fato indicava alterações genéticas que influenciaram no fenótipo, no comportamento, na saúde e na expectativa de vida da criança.
O filho eterno mostra o conflito de um pai, despreparado e inseguro, incapaz de compartilhar da vida do filho que herdou uma genética capaz de gerar comportamentos diferentes da maioria dos indivíduos.
Preconceitos e negação
A insegurança para enfrentar a sociedade, preconceituosa e despreparada, não adaptada para atender às necessidades dos desiguais, mudou o plano de vida do pai.
Em alguns momentos preferia negar a realidade, em outros compartilhava do arrastado desenvolvimento do filho.
O autor revela sentimentos dos transtornos causados pelo nascimento do filho ao ocupar os espaços dos seus relacionamentos, minguar as suas economias, instaurar a insegurança e provocar o afastamento dos pais.
Expectativa compensatória
“E no caso dele, ele pensa – e quando pensa acende outro cigarro -, a troco de nada. Para dizer as coisas claramente, esta criança não lhe dará nada em troca. Sequer aquele prazer mesquinho, mas razoável, de mostrá-lo aos outros como um troféu (…)”
Em outros momentos aparece o relato de eventual contrapartida na relação com o filho.
“Ainda não existe um filho na sua vida; existe só um problema a ser resolvido, e agora lhe deram um mapa interessantíssimo, quase um manual de instruções. Por trás desse pequeno milagre, começa a aparecer um detalhe sutil sobre o qual ele não pensou ainda: motivação.”
Avançar sobre a trissomia do cromossomo 21
O audacioso romance revela sentimentos e conflitos de uma pessoa despreparada para assumir as vicissitudes da vida, a insegurança de enfrentar o desconhecido e trilhar por caminhos difíceis.
Revela a necessidade de continuar aprendendo a renovar as energias para o próximo momento, sem esperança de mudanças significativas da situação.
Motivar-se em busca do pouco, do quase nada, da aceitação do diferente ao qual lhe foi doado sua carga genética, na esperança, mesmo que remota, de que um dia a ciência possa mudar o que a natureza não contribuiu para a normalidade.
O texto desperta para a dificuldade de pais que convivem com filhos detentores de doenças congênitas e mostra a necessidade do entendimento da problemática cuja sociedade insiste ignorar.
O texto, interessantíssimo, nos leva a refletir sobre a necessidade da desconstrução da linguagem preconceituosa a respeito da conhecida síndrome de Down.
Cristovão Tezza
Nasceu em Lages, Santa Catarina.
É considerado um dos mais importantes autores brasileiros contemporâneos, é também colunista do jornal Folha de São Paulo e cronista da Gazeta do Povo, de Curitiba.
Publicou, entre outros, os romances Trapo, O fantasma da infância, Aventuras provisórias, Breve espaço entre cor e sombra.
Referência bibliográfica
Tezza, Cristovão, 1952 –
O filho eterno / Cristovão Tezza – Rio de Janeiro: Record, 2010.
222p.
ISBN 978-85-01-07788-2
1. Romance brasileiro – I. Título
(R)
Muito bom esse livro!