O autor narra uma história ocorrida em um povoado fictício, localizado na região árida do Nordeste do Brasil, onde a chuva era aguardada pela população como um milagre divino. A convivência das pessoas com a natureza do agreste e a ausência de investimentos públicos em obras de infraestrutura, capazes de minimizar o sofrimento daquela população, tornou-se um campo propício para ações de religiosos causando consequências sociais questionáveis.
Semear o milho no dia do santo
Guilherme Almeida elege como protagonista da história um adolescente de dezesseis anos, nascido no dia de são José, data que, no agreste, marca a antecedência das comemorações dos festejos juninos. Semear o milho no dia do citado santo, segundo crença popular, garante boa colheita e ajuda a transformar dias tristes e sofridos em confraternizações juninas.
Apesar do nascimento ter ocorrido no dia de são José os pais decidem dar ao filho o nome de Jesus, muito provavelmente para ver se o nascido vingava. Lourdes, sua mãe, tinha experimentado alguns abortos espontâneos durante o casamento. Não houve estrelas cadentes, tampouco mirra, incenso e ouro, mas, desde a sua nascença Jesus do agreste carregava o peso do nome. Nas populações mais carentes as famílias optam, quando o nascido corria risco de vida ou possui algum defeito físico, por dar-lhe o nome do filho do Senhor.
Deus existe?
O garoto aproximou-se da igreja e logo descobriu que a fé, por si só, não evitou as suas perdas. Foi-se o padre confidente e em seguida o pai alcoólatra e tuberculoso. Questionar-se sobre a existência de Deus tornou-se uma obstinação. Afinal, o nome que lhe foi dado não o ajudou em nada, pelo contrário, só deveres, obrigações e sofrimentos.
O propenso milagre aparece durante uma encenação da Paixão de Cristo. Jesus do agreste se empolga como ator que representa o Cristo na história e prepara uma surpresa, inclusive, para o padre Cláudio coordenador do evento. Com o ocorrido e em função das reações inesperadas dos espectadores o garoto deixou rolar a possibilidade de tornar-se protetor daquela comunidade. A igreja, que defende a transformação da água em bom vinho, certamente não apoiaria a intenção do Jesus do agreste tomar a si poderes de fazer chover.
Machismo e moralismo
A maioria dos personagens que interagem com o protagonista da história são adolescentes, como ele. A narrativa sobre a existência de Deus e o distanciamento social ganha corpo com o inconformismo próprio da juventude. O diálogo adquire um colorido basilar, também, em relação ao distanciamento social, às carências pessoais, à submissão econômica e familiar.
O autor abre espaço para questionamentos mais estruturados quando se refere às discussões na hierarquia da igreja, escancara a empáfia e as conveniências das autoridades eclesiásticas, além das imposições disciplinares, com sacrifícios dos que se encontram mais próximos do povo.
O machismo, o moralismo e a manipulação financeira são inseridos no texto, evidenciados nos diálogos e ações ocorridos durante a convivência de Jesus do agreste com a família de Rita, seu verdadeiro amor, evidenciando a submissão das mulheres, dos menos favorecidos e dos interesses familiares. A precariedade dos serviços públicos recebe a atenção do autor, contudo, observa-se que a população não percebe a ausência da prestação dos serviços como um direito social não atendido.
Guilherme Almeida, em sua primeira incursão na literatura formal navega com maestria. Oferece ao leitor a possibilidade de conhecer o panorama agrário da região do agreste e insere o diálogo, além da narrativa, para permitir o conhecimento da linguagem regional. Para alguns leitores o livro oferece oportunidade de rememorar fatos, para outros o conhecimento da realidade brasileira, sem falar que a obra trilha uma linha filosófica densa e questionadora da existência de Deus.
Para encerrar, sem revelar mais detalhes da história, diferentemente do Cristo que segundo os escritos bíblicos ressuscitou no terceiro dia, Jesus do agreste resolve trilhar um caminho lúdico e escolhe o Gran Circo Manolo como cenário.
A leitura é recomendadíssima!
O livro está à venda na livraria LDM, Shopping Passeo, Itaigara, Salvador, Bahia.
Guilherme Silva de Almeida
Nasceu em Itabuna, Bahia, onde viveu sua adolescência, antes de radicar-se definitivamente em Salvador. Economista, formado pela Universidade Federal da Bahia, consolidou o processo de formação política e o interesse e conhecimento das relações produtivas das sociedades, através do aprofundamento do estudo do materialismo histórico e da aplicação da dialética, na busca da verdade das ideias, inspiradoras do exercício do pensar. A leitura sempre esteve presente em sua formação, com repercussão em lidar com a intimidade com a escrita, na forma sempre clara e objetiva em tratar com romantismo, as nuances rebuscadas da linguagem da língua portuguesa. Habituado aos movimentos e aos questionamentos das ideias, manteve-se sempre inquieto quanto à existência de Deus.
Referência bibliográfica
A447M Almeida, Guilherme
O milagre de Jesus / Guilherme Almeida. – -1.ed. – Salvador (BA): Pimenta Malagueta, 2020.
420p. ; 16x23cm
ISBN 978-65-990212-0-6
1. Jesus Cristo – Milagres – Literatura brasileira 2. Histórias bíblicas – I. Título.
Adorei o livro o milagre de Jesus. Vale a pena a leitura.
Obrigado pela recomendação, ao Milagre de Jesus, e é sempre um incentivo muito grande, ter conhecimento q a trama agradou o leitor. É como se tivéssemos cumprido o nosso papel, de emocionar com a leitura . muito obrigado. Aproveitando, abro aqui espaço, para parabenizar Eduardo Andrade pela iniciativa do site, e estou divulgando intensamente
Obrigado, Guilherme! Parabéns pela obra.
Gostei muito do livro o milagre de Jesus, recomendo a leitura.