A história tem como protagonista um elegante dançarino que se especializou em satisfazer os caprichos de mulheres abastardas, solitárias ou afeitas a aventuras sexuais, por opção ou atraídas pelo encanto de Max Costa.
Buenos Aires
O compositor Armando de Troeye viajou, em um cruzeiro, à Buenos Aires em companhia da sua esposa, Mecha Inzuanza, com o intuito de compor um tango.
Ao perceber que Max Costa, contratado do navio para animar os salões de baile, era um exímio dançarino de tango, estimulou a aproximação dele à sua companheira.
“…Armando de Troeye já havia felicitado Max por sua habilidade na pista de dança e mantinham uma conversa ligeira, adequadamente social, sobre transatlânticos, música e dança profissional. O autor dos “Nocturnos” — além de outras obras famosas, como “Scaramouche” ou o balé “Pasodoble para don Quijote”, que Diaguilev tornara mundialmente conhecido — era um homem seguro de si, constatou o dançarino mundano…”
“O tango, explicou Max, é uma mistura de várias coisas: tango andaluz, habanera, milonga e dança de escravos negros. Os gaúchos crioulos, à medida que foram se aproximando, com seus violões, de mercearias, armazéns e prostíbulos dos arredores de Buenos Aires, chegaram à milonga, e finalmente ao tango, que começou como milonga dançada. A música e a dança negra foram importantes, porque nessa época os casais dançavam enlaçados, não abraçados. Mais soltos que agora, com cortes, recuos e voltas simples ou complicadas.”
A periferia do tango
Armando revela a Max o seu interesse em conhecer particularidades do ritmo e o convence a leva-lo a ambientes que executem o estilo musical, na sua origem.
Receoso, Max concorda em leva-los para conhecer ambientes promíscuos na periferia da capital Argentina.
A aventura termina revelando segredos entre o casal, envolvendo o protagonista em um contexto inesperado, ao retornarem, bêbados, para o hotel onde o casal estava hospedado.
Sem pudor, o protagonista atua procurando tirar vantagem financeira.
Não fosse a beleza e elegância de Mecha, certamente, a história teria parado por ai: um casal, um dançarino e uma música emblemática.
Max e Mecha se apaixonam sem revelar ao outro o sentimento e Armando, com astúcia, estimula a aproximação entre eles e promove oportunidades para a quebra de convenções morais.
Apesar do protagonista não entender a intenção do casal Mecha conhecia as ideias permissivas do marido, reveladas e praticadas em outras oportunidades.
Enquanto Max procura entender o contexto que havia sido inserido o casal deleitava os prazeres mundanos em companhia do protagonista e cria situações desprovidas de segurança.
Xadrezista
A história é desenvolvida em épocas e locais diferentes.
Começa em 1928 com a viagem do casal para Buenos Aires, Argentina, onde conheceram Max, migra para Nice, França, em 1937 tendo como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola e o envolvimento de Max em aventuras políticas. Termina na cidade de Sorrento, Itália, com o aparecimento do xadrezista Jorge Keller.
Em Sorrento, Mecha revela a Max um segredo e o envolve no roubo das anotações do campeão mundial de xadrez, o russo Mikhail Sokolov, adversário de Keller.
As consequências foram desastrosas.
Salvo, apesar de quase triturado pelos seguranças do Sokolov, Max recebe os cuidados de Mecha e ao deitar-se para descansar ouve a revelação:
“— Toda minha vida se alimentou daquilo, Max. Do nosso tango silencioso no salão das palmeiras do Cap Polonio… Da luva que coloquei em seu bolso naquela noite no La Ferroviaria: a mesma que no dia seguinte fui buscar no seu quarto, na pensão de Buenos Aires.”
Max, por sua vez, destroçado, aproveita para contar a Mecha o início da sua história:
“— Estive pela primeira vez com uma mulher quando tinha 16 anos — lembra, lentamente, em voz baixa — e trabalhava como mensageiro no Ritz de Barcelona… Eu era muito alto para a minha idade, e ela uma hóspede madura, elegante. Finalmente, deu um jeito de me fazer entrar em seu quarto… Ao compreender, fiz o melhor que pude. E quando terminei, enquanto me vestia, ela me deu uma nota de 100 pesetas. Quando estava saindo, aproximei, ingenuamente, o rosto para lhe dar um beijo, mas ela afastou a face, irritada, com expressão de tédio…”
O colar de pérolas
Max revela a Mecha que a sua ida a Sorrento foi estimulada pela devolução do colar de pérolas que certa vez havia lhe roubado. Deixou a entender que a relação já não tinha mais a mesma importância, até porque a idade avançada era um fato limitante.
Ao despertar, Max, percebeu que a sua bagagem estava pronta para a viagem de fuga e no criado mudo a luva branca e o colar de pérolas tinham sido deixados por Mecha.
Com essa cena, o autor brinca com a imaginação do leitor, deixando-o imaginar porquê Max levou consigo apenas um dos objetos depositados por Mecha sobre o criado mudo.
O texto é rico em detalhes e a história envolve amor e aventura.
O leitor passa a imaginar possível o amor de um cafajeste e uma bela mulher, que se deixa usar pelos caprichos de um marido cujo caráter deixa a desejar.
Recomendo a leitura!
Arturo Pérez-Reverte
Nasceu na Espanha, Cartagena, em 24 de novembro de 1951.
É jornalista, escritor e membro da Real Academia Espanhola da língua.
A sua obra está traduzida em vários idiomas.
Antigo repórter de guerra, dedica-se à escrita desde finais dos anos 1980.
Editou os romances “O cemitério dos barcos sem nome”, “Território Comanche”, “O hussardo”, “O pintor de batalhas”, os seis romances da série de aventuras “Capitão Alatriste” e “O tango da velha guarda”.
Referências Bibliográficas
Pérez-Reverte, Arturo, 1951-
P516t
O tango da velha guarda [recurso eletrônico] / Arturo Pérez-Reverte tradução Luís Carlos Cabral. – 1.ed. – Rio de Janeiro: Record, 2013.
Formato: ePub
ISBN 978-85-01-40366-7
Título original – El tango de la Guardia Vieja
1. Romance espanhol 2. Livros eletrônicos. I. Cabral, Luis Carlos. II. Título.