O doutor Josef Breuer, médico, casado com Mathilde, filha de uma rica família, e o importante filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche, apaixonado pela atraente russa Lou Salomé, amargam duelos de titãs, cujos ensinamentos foram absorvidos por Freud, amigo, confidente e discípulo do médico.
Apesar de pouco interesse que tinha por Nietzsche, Salomé percebeu, nele, conflitos existenciais que poderiam levá-lo ao suicídio.
Enxaquecas
Escreveu ao doutor Breuer, para convencê-lo a tratar das enxaquecas do filósofo.
Breuer fez algumas exigências e terminou se encontrando com Salomé, em Veneza, para discutirem a estratégia da consulta, já que Nietzsche não poderia saber o que estava sendo arquitetado.
Essa articulação resultou no envolvimento do conceituado médico com Salomé.
Conhecendo a filosofia
Sem conhecer Nietzsche, o médico resolveu ler os seus livros para se inteirar da sua personalidade e ajudá-lo no processo de curar.
Após a leitura, os pensamentos do professor e filósofo exacerbaram a curiosidade do médico, facilitando a sua concordância com o plano de Salomé.
Convencido por Salomé, Nietzsche aceitou se consultar com Breuer, contudo, devido à falta de recursos para financiar as despesas do tratamento resolveu interrompê-lo.
Breuer, sem querer perder a oportunidade de conviver com o filósofo, lhe ofereceu, gratuitamente, um quarto na clínica pertencente à família de Mathilde, sua esposa.
A contrapartida
Depois de rechaçar, inicialmente, a oferta, o filósofo terminou aceitando a gratuidade em troca de serviços a serem prestados a Breuer, já que o médico se dizia confuso com o seu relacionamento familiar.
O duelo entre os dois é acirrado: o médico cuida de Nietzsche e o filósofo o questiona sobre aspectos existenciais.
Apesar de casado com uma mulher bonita com a qual teve três interessantes filhos, Breuer sentia-se só e sem objetivos na vida.
A jovem paciente, Bertha Pappenheim, que sofria de problemas mentais graves, também o envolveu emocionalmente, a ponto de ser notado por sua esposa, que resolveu pedir para que ele suspendesse o tratamento da paciente e transferisse os cuidados médicos para outro profissional.
Os possíveis diálogos entre os dois principais protagonistas, que nunca se encontraram na vida real, mostram o quanto teria sido interessante este combate.
Freud, a filosofia e Deus
O respeitado filósofo, egocêntrico, que não acreditava em Deus e imaginava ser ele próprio a sua melhor companhia, deixa o médico, estudioso de mentes, em situações conflitantes, ao ponto de se aconselhar com o seu discípulo Freud.
O leitor se imagina nos debates entre Breuer e Nietzsche e alterna a sua adesão às ideias do médico analista e às do filósofo ateu.
Diálogo como recurso
Existem momentos de impasse, contudo, devido à abrangência do diálogo e a inteligência dos personagens surgem soluções e alternativas inimagináveis.
Em um dos capítulos, a trama é tão bem construída que o leitor é levado a acreditar que o médico toma decisões importantes em relação à sua família, contudo não passa de um panorama, criado pelo autor, para abordar o provável início do estudo dos sonhos, usados na psicanálise.
As ideias filosóficas deliberam que a felicidade só pode ser alcançada quando o ser humano determina os seus próprios valores, sem influências das sociedades e das religiões.
Renascimento, crescimento e prazer
Os valores são incorporados, através do constante estado de renascimento e crescimento que capacita o ser humano para as fontes do prazer, através do bem e do mal.
O desequilíbrio emocional de Nietzsche, provocado, possivelmente, por doenças de fundo psicossomáticas, o deixava acamado por vários dias, fazendo ver a Breuer a possibilidade de restabelecer sua saúde.
Para agravar o fato, outros fatores relacionados a exemplo da dificuldade de visão, dores de cabeça, vômitos e acidez estomacal contribuíam para o seu desespero.
A obsessão pelo próprio corpo induziu ao filósofo concluir que o seu sofrimento advinha de uma punição.
Tornou a sua aparência tímida e ainda mais triste.
Nietzsche no divã
Nietzsche passa por fortes crises existenciais e Josef Breuer sofre por se sentir encarcerado na própria vida.
O primeiro poderia cometer suicídio, enquanto o segundo apresentava sentimentos de fraqueza, por ter abandonado o amor da jovem Bertha, sua paciente.
Os dois personagens tentam resolver as suas posições sobre os processos psicanalíticos e filosóficos nas seções de autoconhecimento.
Os rumos confusos da solidão, do temor, da agonia, do amor e do abandono terminam por engrandecer a obra e dão vida à ficção.
O livro trata do início da psicanálise.
O embate entre a psicanálise e a filosofia rende um diálogo interessantíssimo e deixa o leitor satisfeito.
Recomendadíssima a leitura!
Irvin D. Yalom
Escritor americano, filho de imigrantes russos.
Formou-se em psiquiatria na Universidade de Stanford.
Escreveu Quando Nietzsche Chorou, A Cura de Schopenhauer, Mentiras no divã, De Frente para o Sol, Cada dia mais perto, O enigma da Espinosa, O carrasco do amor e Os desafios da terapia.
Referência bibliográfica
Yalom, Irvin, 1931
Quando Nietzsche Chorou / Irvin D. Yalom – 2004.
407p.
ISBN 978-85-000-0795-8
1. Psicoterapia – Ficção. I. Título
(R)
adorei a análise do livro. Até deu vontade de ler..
Olá, May
Grato pela visita e comentários.
eu so nao entendi o titulo do livro… por que nietzsche chorou? desculpa minha ignorancia!