O jovem Mariano, protagonista da história, foi requisitado para coordenar os procedimentos da morte do velho Dito Mariano.
Chegando à ilha Luar-do-Chão, tomou conhecimento, de forma inusitada, dos muitos fatos ocorridos durante a sua ausência do local e outros que ajudaram a elucidar questões a respeito da sua origem.
A história, aparentemente folclórica, envereda por crenças e valores regionais que precisam ser satisfeitos para alcançar os objetivos traçados por Dito Mariano, o personagem central da narrativa.
Falso morto
Ciente da proximidade de sua morte, Dito Mariano se faz de morto e orienta o jovem através de escritos que lhes são apresentados.
Os procedimentos a serem cumpridos e as revelações dos fatos da sua história envolve o protagonista e o jovem se ver obrigado a assumir importantes tarefas, para salvaguardar a cultura local e as tradições familiares, as quais entravam em contradição com políticas progressistas.
O rio é como cobra
As observações sobre a natureza se revelam a cada momento, com ditos populares de um povo simples, porém, detentor de muita sabedoria.
“O rio é como o tempo! Nunca houve princípio, concluía. O primeiro dia surgiu quando o tempo já há muito se havia estreado. Do mesmo modo, é mentira haver fonte do rio. A nascente é já o vigente rio, a água em flagrante exercício. O rio é como uma cobra que tem a boca na chuva e a calda no mar.”
O texto é leve e curioso.
O leitor que se deixar envolver na fala da ilha Luar-do-Chão, certamente, terá oportunidade de experimentar uma cultura enraizada em fundamentos onde a natureza é a essência da própria existência.
“Desde o funeral que não pára de chover.
Nos campos, a água é tanta que os charcos se cogumelam, aos milhares.
Poeiras brancas ondulam à tona de água.
Parece que a terra vomita esses pós brancos que, por descálculo, Juca Sabão teve a fatal ideia de semear.
Quem disse que a terra engole sem nunca cuspir?”.
O livro aborda a história de uma família e suas crenças.
Revela a natureza, na forma rudimentar.
Retrata a política, seus conflitos e tangencia a história com foco nas possíveis consequências sociais.
Mia Couto
Nasceu na Beira, em Moçambique, em 1955.
Estudou medicina antes de se formar em biologia.
Atualmente dedica-se a estudos de impacto ambiental. Em 1999, recebeu o prêmio Vergílio Ferreira pelo conjunto de sua obra; em 2007, o prêmio União Latina de Literaturas Românticas.
Seu romance Terra Sonâmbula foi considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX.
O escritor publicou, entre outros, O outro pé da sereia; A varanda do frangipani; Venenos de Deus, remédio do diabo; O fio das missangas.
Referência bibliográfica
Couto, Mia – 1955
Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra/ Mia Couto – São Paulo. Companhia das Letras, 2003.
262p.
INBN 978-85-359-0343-0
1. Romance moçambicano (Português) – I. Título.
(R)
Significado da frase ( O rio é uma cobra que tem a boca na chuva e a cauda no mar ? ) ?
O rio tem a boca na chuva pois é a chuva que enche de água o rio, sua cauda no mar é porque o rio deságua no mar…